quinta-feira, novembro 01, 2018

O tal do te desejar

Era diferente e gostoso o te desejar. A princípio era secreto, como um segredo de estado. Daqueles que inevitavelmente sairia na mídia num dado momento. Então era bom te amar em silêncio por um tempo. Desfrutar da sua companhia enquanto quase ninguém sabia de você. E te acompanhar pelos livros da faculdade de medicina da Tia Juju era delicioso. Lembro com saudosismo do dia que você teve o exato tamanho de um caroço de feijão! Era o mais lindo caroço de feijão do mundo, eu podia saber! 

Mas não foi possível te manter sob o manto sagrado da invisibilidade por muito tempo, logo você começou a querer dar as caras. Bobo você nunca foi, né? Guardar toda a sua beleza do mundão de meu Deus? Era hora já! 
Então começou a preparação, meio assustada, meio atrapalhada, desajeitada, mas com assistência profissional. Era cercada de gente experiente, de outras mães, duas especificamente, de mulheres fortes, donas da porra toda, me desculpe a expressão, sei que detestariam, mas é a verdade. E com elas por perto veio um certo aconchego. Aconchego de colo, amparo mesmo. Teve também o Dr. José Sávio, sábio, sabido, humano, cheio de braveza e paz. E você, começou a bater as asinhas. Bem devagarzinho, como uma pequena mariposa! Era seu dizer, encantador, “ei, mamãe, ei, papai”! E eu... Bom, eu poderia dizer que era tudo lindo até o fim, mas fui sendo tomada por um medo do desconhecido.  Como seria? Como eu seria? Era, muitas vezes um medo que não vinha em palavras. Era só medo. Sua bisavó foi grande parceira nestes momentos, mesmo sem saber, ou até sabendo. Aquela Véia sempre soube me dar as mãos firmemente. Me lembro de uma vez, menina, atravessando uma grande avenida, apareceram carros vindo dos dois lados, e ela me disse: “aperte a minha mão e feche os olhos, vai dar tudo certo”. Sinto que nesse processo de te desejar e te amar muitas vezes eu dei as mãos a ela e simplesmente fechei os olhos e me deixei levar. Mesmo sem tê-la aqui presente. Não sei como, mas sempre deu certo. Assim como não sei como acabou aquele dia da avenida. Mas deu. 

Cada vez mais gente sabia que eu não andava só e éramos um só, inseparáveis. Desde sempre, desde a sua formação, desde o início da gente. E era bom e Deus prosseguiu. De vento em popa, fomos, juntos. Muitas vezes dormíamos e acordávamos juntos. Ou um acordava o outro. 

Chegou o dia em que você me acordou de vez e disse, agora é pra valer, mom. Eu não me assustei mais. Já sabia como ia ser. Já tinha a sua idade hoje. Mas incrivelmente estava pronta e não queria assustar ninguém. Pedi para que esperasse e não fizesse muito estardalhaço. Você, sempre muito tranquilo, concordou comigo. Assim passamos dois dias. 

E aí chegou o dia de te ver pela primeira vez. Ah, meu pequeno, como queria te conhecer! Você não demorou. Você parou de chorar, olhou pra mim e se aquietou no meu cheiro. Aquilo era indivisível. Éramos só você e eu. Ninguém mais no mundo poderia fazer parte daquele momento mais belo de toda a minha vida toda! Parecia que eu tinha nascido só pra te ver ali e bastaria tudo. Do lado de fora suas avós, assustadas, admiradas, já te amando loucamente antes mesmo de te ver. Como um filho une todo um conjunto de pessoas que são família hoje, não?

Como lhe disse hoje, o meu esperar foi diferente do que ouvi enquanto te esperava para lancharmos na mesa ao lado no restaurante. A mãe também esperava um Diego. E eu também esperava um Diego, o meu. E venho, nestes quase vinte anos, te esperando, desejando, amando, incorrigivelmente, sempre, sempre, como se fosse naquele momento único em que você encontrou em mim seu conforto. Pois é em você que encontro o meu. Imutável, persistente e consolador lugar de estar. Seja assistindo um filme, seja comendo um cheedar, seja num beijo de testa, seja na sua plateia de um show seu ou onde quisermos estar, seja você me dizendo “pode casar, mãe, mas eu te levo ao altar”. Mas na minha felicidade, entenda, amor da minha vida toda, tem de conter: você. Pois desde que você foi inventado nunca existiu eu sem você.  E seu canto em mim será sempre aqui, junto, perto, longe, onde quisermos estar. Mas estarmos. Te amo desde antes de te saber até a eternidade. Você é meu tudo, minha razão. Obrigada, filho! Obrigada! Te desejo o que há de mais belo, mais lindo, mais maravilhoso! Te desejo o que ainda não tem palavras para descrever. E continuarei desejando. E quanto eu não estiver mais aqui, confie, aperte a minha mão e atravesse a avenida, sempre dará certo! É assim que te desejo, amo, admiro e quero. Te espero.

Mãe 
01/11/2018
22:56h












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