terça-feira, setembro 01, 2009

Tudo que eu faço eu faço muito

É sempre assim. Eu sempre exagero. Quando to na fase da angústia, da ansiedade, não durmo. Não como uma pessoa normal. Não durmo nada. Posso passar dias só cochilando, com sono leve de acordar com o grunhido de uma mosca (se elas grunhem é outra história). Passo até noites em claro. Aí fico: “não vou conseguir dormir, não vou conseguir dormir...” e nesse mantra de não-durmo o que acontece? Não durmo at all!

 

Aí invento que faz muito tempo, muito tempo mesmo, que não corro e que minha barriga está enorme e que isso prejudica meu sono... E corro. De um dia pára o outro começo a correr cinco quilômetros. E vou mais rápido. E aí começo a ter câimbras. Aí como bananas. Antes e depois de correr. Duas antes e três depois. Quatro, cinco...

 

Depois, estou cansada demais. Muito mesmo. Socorro, que cansaço! Vou tomar uma gelada depois da corrida, só pra relaxar mais, aí eu durmo melhor, né? Boteco amigo. Senta e toma uma, duas... Chego em casa exausta e me arrasto pro banheiro, enquanto dou um beijo na testa do meu filho, ajeito a minha avó na cama e brinco com o cachorro que corre como um louco para todos os cantos. Tomo um banho de quase acabar com a água do mundo! Afinal, minhas costas doem, meus ombros estão travados (muito potássio) e meu pé dói que é uma beleza!

 

Lembro que tenho que fazer as unhas dos pés, das mãos, cabelo e hidratação... Não acho acetona, já está tarde, salão fechado. Amanhã resolvo. Até amanhã dá tempo de baixar umas fotos, ler algumas matérias sobre marketing viral, olhar uns e-mail, enviar alguns currículos. Este é o momento out de meios sociais para lazer. Nada de MSN, Orkut... Só cuidar dos meus blogs, pegar relatórios estatísticos de visitas, cadastrar perfis, entre outros.

 

Tantas da noite eu resolvo que fechar os olhos por conta própria é melhor do que bater a cabeça no teclado do laptop. Deita na cama e lembro que não deixei o dinheiro do inglês do menino. Levanto. Pego. Guardo. O cachorro acorda e quer brincar. De morder. Um dia ainda machuco o coitado que ainda não entendeu o não de sim e o não de não mesmo. Leio um pouquinho e durmo.

 

Acordo no meio da noite com sede ou fome. lembro que não tive tempo de comer... Pego aquele imenso pacote de biscoito recheado e lasco de uma vez só. Aí bebo água. Durmo.

 

De manhã é sempre muito cedo pra mim. Mas cinco e meia da matina deve ser cedo pra maioria, não?Bom, não sei nem quem é a maioria! Mas é cedo. Levanto, “acorda, Diego, filho, tá na hora!”. Quase carrego o menino... Banho, café da manhã, “mãe, só mais cinco minutinhos?”. Não. E nada de coitado. Se der mais cinco minutos eu não acordo e ele perde o especial.

 

Vitamina de banana, suquinho de laranja coado, pão integral, mamão, cereal de minhoquinha... Comido? Tchau e boa aula. Se fico acordada, é tempo de rabiscar umas coisas, olhar o google analytics, e-mails, cursos que quero fazer e buscar imagens sobre a sapatilha vermelha de forró que quero comprar e não acho. Ou faço algum trabalho que fiquei de fazer pra minha mãe (pelo qual nunca sou paga). Se durmo, sempre perco a hora. Mas tem dia que estou tão cansada... E, quando perco a hora, já viu! Ai, que puta preguiça de ir praquela p@rra de empresa, saco! Com que roupa eu vou? Depende. Se tiver Vera mais tarde tenho que usar soutien que abre atrás. Se não, tudo bem. E se tiver que ir ao banco no horário do almoço, sapato baixo.

 

Atraso.

 

Minhas costas sempre doem e minha cabeça também. Sempre dá meia noite antes de dar dezoito horas. Quero uma massagem. Aliás, quero todas as massagens que são possíveis de se fazer numa pessoa só. Cabeça, ombros, joelho e pé.

 

Depois de três dias, fim de expediente. Saio com a cara pintada de palhaça, mas saio. Pago até algumas contas! Namorado na porta? “por favor, por favor, por favor” – em pensamento. Namorado na porta, aê! Aí eu começo: “meu dia foi péssimo! quer dizer, muito intenso, muitas emoções! e o seu como foi? não porque o meu dia... putz!”. “putz! o quê, carol?”. “lembrei que tenho que passar na farmácia pra tomar injeção do anticoncepcional, comprar cereal, passar no banco, na locadora, pegar o vestido que deixei pra arrumar a alça, comprar cigarro, merda, acabou o meu cigarro! e ainda tenho que ligar para o Diego deixar tudo pronto pra mim porque ainda vou correr e tenho que pegar a minha máquina não-se-onde e cadê meu pen drive, amor?”.

 

Ele respira e me pede pra repetir, com calma, tudo que tenho que fazer. Acho o cigarro na bolsa e diminuo à metade a minha lista-de-coisas-que-não-podem-passar-de-hoje. Faço tudo e vou correr. E comer bananas. E juro que esta noite eu durmo direito. E nunca escuto deveras como foi o dia dele.

 

Vou em casa, troco de roupa, saio, esqueço o MP4, volto, cachorro pula, mando o menino tomar banho, “de novo, mãe?!” e vou correr. Aí corro até quase cair, ainda com aquela coisa de atleta que fui a vida toda, de superar limites, mas me esqueço que não sou mais atleta e superar meus limites significa ULTRApassar meus limites e mais dores depois.

 

Volto, retorno as doze ligações do meu celular: cinco do meu filho, cinco da Debora, uma do meu namorado e uma de uma empresa que marcou uma entrevista comigo e achei que era pra amanhã.

 

Chego em casa e cuido da avó. Se ela não inventar que precisa tomar uma ar ou banho às três da madrugada, tudo bem. Arrumo a mesa do café da manhã do dia seguinte e por aí vai. E vai muito.

 

Eu queria muito viver uma vida assim, de dizer “nossa, hoje vou chegar em casa, pedir um pizza, tomar um banho e cair na cama!”. Mas como tudo que eu faço, eu faço muito (por fatores externos e outros inerentes mesmo), mesmo se esta vida eu tivesse, ainda daria tempo de, ao menos, ver se acho  tal da sapatilha vermelha de forró porque domingo quero forrozear daquele jeito: dois quilos de suor por noite. E depois... Dia seguinte: cabelo pra arrumar, unha, pé com bolha, “como vou correr assim?”. E aí lembro que ainda tenho que fazer uma das coisas que mais detesto na vida: estudar história pra prova do menino amanhã. É. Minha realidade.

 

É... Acho que eu não tenho como ter uma vida assim, de menos, não... Porque eu sou sempre muito. No pouco ou no tanto. É porque tudo que eu faço eu acabo fazendo muito. Mesmo que pouco muito, eu sempre, sempre, no tudo que eu faço, eu faço muito.

 

Afe. Cansei agora.

Um comentário:

  1. Afe, ainda bem que o texto acaba........ estava ficando com preguiça.
    Bjs

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