domingo, maio 03, 2009

Sobre a tal menina


Ela não era tão responsável e imponente assim como parecia. Não era tão mandona, tão brava, tão “ão” como transparecia. Era mais frágil. Era mais doce, mais meiga, mais leve e mais dolorida.

Era uma moça, uma menina cheia de sonhos, cheia de vontades, desejos e que ajeitou uma forma durona de enfrentar essa vida cheia de percalços e pedras. E ficou dura na queda, aquela menina. Ficou brava, de cara fechada. E só haveria de chorar no banheiro, escondida, onde ninguém pudesse ver suas lágrimas de qualquer tristeza.

Mas às vezes a tristeza é maior e mais pesada do que ela poderia imaginar. Diria que não. Que já tinha enfrentado muitas perdas, desamores e dissabores na vida e que seria somente mais um. Seu mundo tava cheio de amigos, o suficiente, dizia, pra lhe emprestas um ombro. Mas ela, como toda menina dos olhinhos pequenos, não se conteve com outro ombro e se deitou. E chorou.

Contou das suas dores de cabeça, do dia em que chorou e vomitou na porta do banheiro lá de fora, dos abandonos de bicicletas, dos desencontros no ônibus, dos cd´s largados, do seu lugar do lado direito da cama, da sua mãe, da sua avó e seu suco de maracujá. E a menina chorou muito e saiu do banheiro. Mesmo achando que não conseguiria sozinha, ela deu a mão e saiu do banheiro. Saiu da casa, saiu do mundo fechado. E foi dar de cara com o mundo.

Foi quando voltou a falar de cinema, de fotografia. Foi quando criou um diário virtual, quando tomou coragem de usar um tal vestido vermelho, foi quando voltou ao forró e ao samba. Foi quando cresceu um bocado, como se cresce nas dificuldades da vida.

E hoje e menina ainda chora. Pelos mesmos e por outros motivos. Mas ela samba. Ela roda. Ela é livre. Ela tem menos pesadelos. E fala muito, muito mesmo de fotografia, música, filmes, pessoas, passos de bolero, luz, ação. Ela ainda chora, menina chorona... Mas agora adora de novo o picadeiro, pede a banda pra tocar e vai dançar mais uma vez. Agora é passível de se ver nos olhinhos pequenos que ela diz abertos fazendo declarações de amor românticas sem procurar a justa forma.

E essa menina forte, brava, branda, carinhosa, linda, meiga, doce, corajosa e audaciosa é uma menina que adora tirar fotos, adora ficar sozinha vendo filmes, adora fazer cabaninha com criança, deixar clientes satisfeitos, gosta de amores, não gosta de banana, ama um chope de vinho e só não sabe o tamanho que tem.

Só isso que ela não sabe. O tamanho que tem. A força que tem. O que é capaz de fazer com seus sonhos mais íntimos e mais incrivelmente impossíveis.

Porque toda menina que tem os olhinhos pequenos como ela... Ah... Só falta isso. É porque tem dificuldades de enxergar. Deve ser isso. Quando, de fato, abrir os olhos e parar de olhar para o espelho (que diminui mais ainda a visão), ela pode se assustar. Vai precisar de uma lupa, talvez, mas vai levar um baita susto. Com o tamanho que é. E o mundo é azul lá de cima, pequenininho pro tamanhozão d’Ela.

Aí, menina, se prepara. Porque não vai ter trégua. Vai ter que acontecer e deixar as derivas. Eu ouvi dizer (e olha que quem me disse sabe de tudo, hein?) que esse lugarzinho aí... Humpf! Ô, moça! É só um lugarzinho pequeno. Você é maior que ele. Por isso que dói e espeta.

Tá aqui uma lupa, oh: Tu tá se encolhendo... Faz isso não. É um gênio a menos pro mundo, vasto mundo. E nós precisamos de gente como você.


Então sacode a baiana e vamos tratar de deixar de lado coisa boba e tratar de fazer pelo mundo o que ele espera de você. Ele acredita. E você, moça, acredita?

Um comentário:

  1. Belas palavras... Bjus e boa semana.

    http://contesta-acao.blogspot.com

    ResponderExcluir