quinta-feira, outubro 08, 2009

“Aprenda! Matemática é uma coisa que vais usar por toda vida!”

Entrava por aqui e saía por ali.  (Orelhas, ouvidos...)

 

Eu, criança, sabia que NUNCA MAIS NA VIDA usaria daquelas fórmulas, fatores, entre outras bobeiras. Fazia as provas, passava e tchau. No máximo filtrava alguma coisa sobre frações e decimais porque alguma coisa me dizia no fundo do meu coração que poderia ser útil no futuro.

 

Eu era uma criança saudável, normalíssima (na medida do MEU possível), que dançava, cantava, fazia esportes, estudava línguas, usava suspensório com saia rodada e colete, tomava Mate-Couro, comia Cebolitos, Zambitos, sonhava em ir para a Disney, brincava com meus amigos, primos, filhos imaginários e estas coisas... (normal, não?).

 

Ia lá me preocupar com funções do segundo grau? Ou com simetria? No way!

 

Passei por estes tempos gloriosos de escola escutando que minha única obrigação era estudar e tirar notas boas. Diga-se: notas máximas e, se possível, melhor do que a máxima, com direito a bônus. Na minha casa, onde todo mundo é bamba e não bate bem das bolas – nunca gostamos de futebol – nota boa era 10. 9,7 era mediana. Estudei em boas escolas, aprendi matemática, física, química (ai!), biologia e geometria por obrigação e imposição da sociedade! Eu queria era liberdade poética pra viver.

 

É boa a ilusão de ser criança e só, né?

 

Aí pronto. Passou. Terminou a escola. Aê! Eu Faculdade, pós-graduação... Nunca mais precisei balancear uma equação química (nem sei se é este o nome e ainda tenho raiva de quem sabe), ou aplicar meus conhecimentos sobre mitocôndrias da era mesozóica da parafuseta. Muito menos, e mais importante, nunca mais fiz cálculos de cabeça (da-lhe calculadora, Excel e etc.). Ô, beleza! "Não te falei, 'fessora? '".

 

Ontem, porém, me peguei dizendo exatamente: "Aprenda! Matemática é uma coisa que vais usar por toda vida!". É. Falei isso com o meu filho. Com pesar no coração de saber que ele não dará a mínima, apesar de ser ótimo nas exatas, vai esquecer quase tudo depois e a história se repetirá.

 

Mas falei, com pesar e firmeza, que tinha que saber. "Diego, meu filho, matemática não dá pra estudar só passando o olho na matéria, não! Tem que refazer os exercícios, fazer de novo, and again, and again, and again, and...".

 

Aí fiz um mega resumo da matéria como se fosse um simulado. É. Porque mantenho a linha dura de que nota boa é 10! E ele fez tudo.

 

"Mãe, mínimo múltiplo comum é infinito. Você quer que faça quantos? três, dez, vinte?"

- 20.

"Mãe, não dá pra fazer isso com 5 e 49. Viajou?"

- Era pra ver se você estava esperto!

"Mãe, máximo divisor comum é 1. Quer que continue?"

-Ãh... Não.

"Mãe, só pra entender, onde você abriu este colchete aqui? Porque só tem um e tem que ter dois, né? Foi aqui?"

- Foi. Foi bem aí...

"Mãe, isso é gigantesco! Posso usar mais duas páginas?"

- Pode.

"Mãe! Você copiou esta do livro. Já sei a resposta de cor! É 27. Quer que faça os cálculos?"

- Quero, ué!

"Saco!"

 

E foi assim até tarde da noite. Quando vi o menino quase babando no caderno, falei pra ele dormir porque a prova era no primeiro horário e era melhor estar descansado. Afinal, tem hora que já não entra mais nada na cabeça, não é, filho? Ele virou de lado na cama e apagou.

 

Eu olhava para aquele rostinho angelical, que, nos momentos de pausa do meu estudo ditatorial, perguntava se no sítio que vamos passear, da Tia Debora, tinha vara de pescar e ficar todo feliz quando descobriu que sim e que tinham minhocas na terra para catar, DAVA UM AI! Um AI, tadinho, será que sou muito dura? Um AI, que saco, estudar matemática!

 

É o que costumam dizer sobre maternidade: ENVELHEÇA NO PARAÍSO, MINHA FILHA! E estude matemática, pois logo logo VOCÊ VAI PRECISAR! AI...

 

Mas o AI pior de todos é que sonhei com a matéria a noite toda e acordei pensando:

 

"Dio Santo!"

"Dê-me paciência para a adolescência que costuma vir junto com os LO-GA--TI-MOS, coisa que nunca entendi e nem sei pra que funciona!"

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