sábado, fevereiro 14, 2009

Sobre gente que pensa (ou não)...


Só gente que pensa que vai entender e concordar com o que vou escrever agora. Ao meu lado uma mesa. Na mesa uma colega de trabalho. Com a colega de trabalho um telefone. Do outro lado da linha uma pessoa. Daquelas que não pensam...

“Estes dados que você está me pedindo você já tem.”. “O CNPJ do fornecedor é exatamente este que você me passou agora.”. “Quando você lançar no sistema vai fazer o seguinte...”. “Não, deixe te explicar de novo...”. “Viu?”. “Não? Vou entrar aqui também...”. “Do lado esquerdo, ao lado da bolinha azul... Clica nela. Agora ‘arreda’ o cursor do mouse para a direita... Hã... Faz de novo.”. “Então. Entendeu?”. “Por nada. Agora você já sabe. Da próxima vez pode fazer sozinha.”.

A colega do lado desliga o telefone.

- É duro...
(não olhei e não respondi porque estou escrevendo...)

O pior das gentes que não pensam são as gentes que, além de não pensarem por inércia em relação ao seu próprio status quo (sic), tem preguiça de pensar. É o tipo de gente que prefere control C e control V. Prefere ficar assim mesmo, ganhando pouco, fazendo um trabalho que não sabe fazer e a pessoa que pensa (que é de outro setor) a ensina.

Gente que não pensa tem em tudo quanto é canto. Nas empresas, no terceiro setor, na padaria, no boteco, em casa, no consultório médico... Eu tenho uma preguiça enorme deste tipo de gente. Gente dã demais, gente “tá bom” demais, gente “eu?” demais.

Já tive vontade de sacudir gente assim e gritar ACORDA! Pegar, dar uns tapas, esbofetear, achar o botão de ligar, colocar numa aula de arte contemporânea, mandar pra Luanda conviver com as amigas baratas das garrafas de café, mandar pra Lua, sei lá.

Mas agora não tenho mais. Um tantão por preguiça mesmo, por perceber que de todas as pessoas que chacoalhei, um por cento acordou. Outra parte é porque finalmente entendi que se não houvessem milhões de pessoas que não pensam, também não existiriam as poucas pessoas que pensam.

Imagine se fôssemos todos empreendedores, criativos, arriscados, matutantes, ousados, pensadores, de fato? Ninguém leria livros (todos estariam escrevendo). Ninguém assistiria a um show (estariam todos no palco). Afinal, de que serve um público se não para ser platéia?

Importante: Não digo que sou pessoa que pensa (mas acredito que sim) nem que os que não pensam são inúteis e coisa e tal. Não. Digo que tenho preguiça, só. Mas que entendo que tenham que existir. Ou o mundo seria um pandemônio. Imagine? Puxar o tapete é pouco. Nos mataríamos cientificamente. Com as fórmulas mais loucas e das mais variadas maneiras. Seria o fim da humanidade.

Agora viro pra minha colega do lado e digo: “Ainda bem que tem gente assim.”. Ela faz uma cara de “hã?” e eu digo que explico depois.

Desde a escola vemos crianças fazendo o para casa e entregando bonitinho pra professora. E vemos gente pulando sobre as cadeiras, atrapalhando a aula e fazendo perguntas insanas (ou burras para os demais). Assim como já ouvi falar de surdos compondo, gente que corta a orelha, gente com dislexia, gente deficiente. E muitos destes pensam.

Eles acabam inventando o sistema sobre o qual minha colega do lado conversava ao telefone. Ou descobrem a cura da Aids, viram grandes atores, lixeiros que fazem a diferença, palestrantes do PENSAR, instrumentistas geniosos, artistas plásticos, vendedor de picolé Caicó. Porque pensam.

A minha verdadeira revolta é: “Nossa época se orgulha das máquinas que pensam e suspeita dos homens que tentam pensar...” (H. N. Jones).

Sei que ser for uma escolha, eu prefiro pensar. É mais emocionante. Assim eu toco meu bonde e não fico à toa na vida vendo a banda passar...

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