terça-feira, dezembro 16, 2008

Desabafo! - "Porque se alguém me ouvisse eu não gritava"

http://www.myspace.com/silviagommes


Tô cansada dos gritos da minha casa. Dos berros da minha avó, quando acha que ninguém escuta, dos latidos estridentes da cachorra a cada passo do lado de fora, do papagaio grunhindo à noite porque a luz está acesa, dos passos dos chinelos havaianos da minha mãe, andando rápido e grosseiramente enquanto reclama que ninguém isso ou todo mundo aquilo. Do moleque reclamando, do telefone tocando, do meu trabalho me sufocando!

To cansada de ficar calada. Cansada de esperar a minha vez. Cansada dos dedos apontados na minha cara dizendo alguma coisa.

Exausta pelo peso da minha “roupa pra lavar”, pela falta de ar constante, pela dor de cabeça latejante, pelas explicações que não quero dar.

Toca o celular, toca o telefone, cadê o décimo terceiro das empregadas que sumiu? A empregada liga com seu pelo amor de Deus não fui eu. Liga dizendo que paga a tal conta de telefone. Liga o tempo todo. Liga minha mãe pra saber se eu transferi o dinheiro da pessoa jurídica, liga meu filho querendo saber se pode chamar o colega, liga a contabilidade sempre dizendo que tem uma pendência que nunca existe.

Dedos demais. Gente aponta e diz que, não, a recessão e a estabilidade e a puta que pariu! Outros, em riste, dizem que meu medo não é menor do que a crise econômica e que eu tenho logo que deixar de ficar mofando. E eu escuto. Finjo escutar. Tampo os ouvidos. Mas tem sempre um grito lá fora / dentro me cobrando que a conta do celular ficou cara demais e que meus 28 não são 18. E que tirar carteira é só mais um chilique da Carolina.

E um quê de “você é extremamente inteligente”. “... só que joga fora o colégio caro, as aulas de inglês, a faculdade, a pós” e sempre “cresce, você vive no mundo da lua!”.

É tudo muito alto. Muito grande. Muito ruidoso. Tudo compartilhado na dor e na felicidade. Mas até a felicidade me custa o que foi gasto comigo quando usava fraldas de pano.

E quando eu bato o cartão de manhã eu engulo seco numa desesperada contagem regressiva de “quando é que vai acabar?”.

E eu ainda não sei o que quero fazer da vida e muito menos como fazer minha vida. Vou tropeçando.

Quero respeito ao meu silêncio. Quero um colo sem julgamento. Quero paciência, mas nem sei se me é possível paciência assim.

Meu cabelo ta caindo, minha cabeça sei lá, meu corpo dói por inteiro. Dói o pé, doem os ombros, braços, costas, nuca, pernas, dedos, todos os dedos.

E não dá tempo. Não dá pra ficar assim e só. Ainda tem sempre um trocar fralda da minha avó, uma hora de dar atenção ao filho, uma hora de atender o celular da mãe e responder que sim, paguei a Unimed e que “não é possível que você não entende que quando não atendo é porque realmente não dá?” e não escutar a resposta avassaladora de raiva do mundo quando coloco o telefone em cima da mesa e deixo.

Não dá pra querer ficar sozinha. Porque sozinha EU NÃO EXISTO. Sozinha eu não sou filha que TEM que escutar ou mãe que tem que ser mãe ou neta que escuta bondades verdadeiras e alfinetadas maldosas. Calada.

Calada e engolindo choro. Saindo por fora. A pele seca, a voz muda, o nó da garganta, a cara de quem não dormiu, o “semblante cansado”, a “cara de gandaia” que insiste em me dizer todos os dias pela manhã quando tudo o que eu fiz foi NADA.

Meu choro seco fica guardado e pensando no tamanho da injustiça que é só eu não poder chorar e gritar e desabafar. Isso porque seria mais alto, mais barulhento e minha cabeça já dói.

Não quero conversar. Não quero encarar e nem me esconder. Mas não me acho. Como ficar sozinha se não me acho? Vou fazer o quê? Viver das lamúrias dos outros? Lavando as trouxas das roupas sujas que nem dou conta de levantar do chão? Cadê a minha trouxa?

E agora? Posso chorar?
By Carol
16 de Dezembro de 2008-12-16 21:56 h
- o que eu fiz por mim até agora no dia de hoje: isso. -

Um comentário:

  1. ai. e v c sabe que meu colo esta aqui.... e v c pode ficar calada.
    amo muito...

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