segunda-feira, setembro 29, 2008

Por Elisa - 29 de Setembro de 2008 - 25 anos


A Menina da Bochecha Rosada (meio)

- Nossa! Que menininha bonita! – e a doce senhora apertou as bochechas rosadas da menina bonita.
- Carolina, venha conhecer... – chama a filha de cabelos encaracolados à porta.

Carolina olhava incrédula, de rabo de olho, para aquela coisa pequena, bochechuda, branca e rosa de vergonha, cabelo lisinho, mãos no bolso e ouvia sua mãe dizer repetidamente:

- Veja este macacãozinho! Igual ao seu, Carolina! Só que o seu tem borboletas verdes e no dela são roxas!

A menina rosada balançava-se como uma menina rosada geralmente se balança e Carolina não acreditava que sua mãe ainda insistia em consumar aquela amizade impraticável... A menina era tão pequena... Tão menor que ela...

...

Menina rosada e suas enormes bochechas à parte, chegaram as férias de verão.

Piscina, salão de jogos, quadra, salão de festas, um milhão de crianças de todas as idades.

Carolina descobriu que a tal bochechuda chamava-se Elisa. E nadava quase tão bem quanto ela. OK. Inventaram o “pega de olho fechado” – a maior farsa da humanidade -, o “pega de pular” – eram feras nisso -, as lutas contra os pobres e oprimidos, os afogamentos, caldos, inventaram jogar todas as cadeiras e mesas de plástico dentro da piscina (quando o síndico, coincidentemente o pai da bochechuda, não estava), picotaram papel por três dias para fazer uma escada de terror, roubaram (várias vezes) a chave da casa das máquinas do porteiro pra comer Pizza no terraço, fizeram piquenique no elevador, acamparam na quadra, jogaram queimada, rouba-bandeira, subiram no parapeito do primeiro andar e davam a volta no prédio correndo (quanta emoção!), andaram de patins na garagem, trocaram adesivos que brilhavam no escuro, pularam muro, fizeram festas de despedida, de chegada, surpresas, amaram o mesmo menino, brigaram, fizeram as pazes e cresceram.

E por algum tempo limitaram-se ao “Bom dia”, “Como vai?” e tal. Não se afastaram. Apenas, como a rosada Rufino Barbosa gosta de lembrar com rancor, um dia a Carolina ressabiada disse que ela era muuuuuuito CRIANÇA. Ela ficou magoada.

O tempo não pára.

Carolina, a ressabiada que olhava para a menina cor de rosa, deu fruto. Fruto Diego. E a menina das bochechas, como haveria de ser, pegou no colo. A Carolina ressabiada, porém crescida, e o rebento, “a criança que suava como um porco!”. E andavam pelas ruas cantando musiquetas e o menino ensaiava: “nega maúca, nega maúca!”.

E todos os dias a rosa esperava a ressabiada chegar da faculdade para olharem para o céu estrelado deitadas na cadeira branca da piscina e imaginando o tamanho do mundão lá fora daquela redoma em que viviam. E discutiam filosoficamente na mesma intensidade. Começavam calmas e terminavam “descobrindo o mundo” e de pé sobre a mesa! Todos os dias.

Como sempre, o tempo não pára.

E, de tempos em tempos, sem necessidade de periodicidade, ou encontros marcados de Sabino, em recantos onde Machado pôs o mundo inteiro, elas se encontram e tomam uma cerveja, fumam um cigarro, contam histórias, falam de amores. Isso tudo enquanto a rosada arruma gaveta por gaveta, sempre à procura sabe-se lá do quê (às vezes de um anel que nunca esteve ali, um lenço, um pé de pato, qualquer coisa – o importante é manter o movimento de inércia em relação ao “procuramento”).

E quando se encontram vibram com cada vitória. E sabem bem que um amigo é alguém que te gosta verdadeiramente e apesar do seu sucesso. (Murilo Felisberto).

Até porque quando Marília Gabriela perguntar sobre como tudo começou e falar do quintal do mundo e das idéias loucas que tiveram juntas, elas podem responder que tudo começou porque suas mães as emperiquitavam com vestidinhos comprados na feira hippie com borboletinhas coloridas que elas nem gostavam tanto assim.

Eram apenas duas meninas, a bochechuda rosada e a ressabiada de cabelos encaracolados que se descobriram e se convenceram, olhando para os espelhos, de que eram raridades. E por isso são assim hoje. Seria esta a resposta.

E raridade como esta da bochecha rosada (às vezes ainda por vergonha, outras vezes por charme), não se deixa largada. Deixa-se livre. Liberdade do tamanho da importância que tem... Esta pirralha que virou um dedo meu. Onde conto meus amigos.

FELIZ ANIVERSÁRIO, bochecha rosada! Feliz todos os dias.


By Carol Bahasi
29 de Setembro de 2008
11:35 h


1/4 de século!!!

2 comentários: