quarta-feira, outubro 31, 2007

Minha Maternidade

Quando meu filho nasceu eu me sentia super preparada para a maternidade e tudo que vinha no pacote. Pacote de fraldas, tapinhas na mão, castigo, broncas, birras, legumes, doces, passeios, melecas, cólicas, corpo, estrias... Todo o pacote que vem junto com uma criança. E o meu pacote era especial (como hambúrguer sem cebola do Mcdonalds – “especial para você”). Era o pacote teen, para jovens mães adolescentes, solteiras, sob os olhares reprovadores de mãe psicóloga, sogra participativa, pai ausente (o meu), pai troféu (o dele), avó envergonhada, mínima experiência, tentando esconder o barrigão enorme que todos faziam questão de reparar na rua, espinhas que nunca tive antes, parto normal, “faz força ou esse menino não sai”, fórceps, hospital, peridural, pontos, “huéeeeeem!”, “tá vivo?”, “tem todos os dedos?”, “seu idiota, por que você não tirou nenhuma foto?”, banho, desmaio, leite, enfermeira, choro, noites sem dormir... “Sorriu...”, sentou, andou, falou, bico, soninho, que bonitinho. Meu pacotinho especial para teens.

Assim foi por um bom tempo. Quando meu filho nasceu eu tinha certeza de que seria uma ótima mãe. Do tipo amiga. Do tipo brava. Mas do tipo liberal. Do tipo que cresce com ele, que faz dele o mascote da turma de faculdade, a criança da turma, que todos iam amar.

Em partes isso tudo aconteceu. Era a única criancinha fofa gorducha da turma. Mas isso era durante o dia. À noite eu tinha que ficar com ele em casa. Foi o mascote da minha turma de faculdade. Mas não quis ir à minha formatura porque na missa da igreja ficou com medo de algumas imagens aterrorizantes mesmo para um menino de quatro anos. Liberal, brava, OK. Tudo OK.

Sem que eu percebesse ele já não comia mais frutas, verduras, legumes, já tinha o chip “não gosto de verdinho” implantado. Já tomava muita coca-cola, comia muito biscoito recheado e era louco pela babá.

Não podia parar de viver, claro. E continuei vivendo. Tentei acompanhar meus amigos, sair, beber, me divertir. Mas às vezes ele tinha febre. Ou não dava pra levar pro sítio do fulano de tal porque não era ambiente para criança. E ele já não era mais tão gorducho fofinho. Já era birrento, manhoso, exigia atenção, queria brincar o tempo todo. Até aí tudo bem.

O problema é que o pacote teen não inclui uma pré-adolescência adiantada, aos oito anos, onde se contesta tudo. Onde se é um chato de galocha e que, depois de “você é a pior mãe do mundo”, se diz “quero morar com meu pai!” e lhe vira as costas.

Sinto que desaprendi a ser mãe do meu filho. Não consigo mais conversar descentemente com ele sem ficar nervosa ou desistir... Se digo que vou guardar todos os brinquedos que ficarem fora do lugar (e guardo mesmo) ele responde petulantemente que “ah, ta, mãe. daqui à pouco você me coloca lá em cima também!”. E eu digo para ele não ser petulante. Mas ele não sabe o que é “petulância”. E eu digo que ele me deve respeito. E ele responde que eu também devo respeito a ele. E diz que quer ir morar com o pai. É de partir o coração.

Preciso de outro pacote. Não sei mais ser mãe. Não consigo mais ser a mãe legal que leva no parque, no cinema, que viaja (até porque parque não serve mais, filme só se for “High School Musical”, viagem... Hã. Viagem. Não tenho tempo pra isso).

Agora sou a mãe chata que trabalha o dia todo, que coloca um tanto de regras, que está sempre cansada, que estuda à noite três vezes por semana, que arruma alguma coisa pra fazer nos outros dias pra não chegar cedo em casa e quando chega tem que conferir o dever de casa, arrumar a mesa do café da manhã do dia seguinte, arrumar o material, varrer o chão de bolinhas de isopor que o geniozinho usou para construir um foguete e não limpou, programar pagamentos no banco pela internet, explicar periodicamente aos meus amigos porque não tenho tempo pra eles, fazer a nota fiscal da empresa da minha mãe, deixar separado o dinheiro para a empregada leva-lo na terapia, pensar na matéria que tem que fazer para a disciplina “Suplemento I” da especialização, tomar banho, arrumar minhas coisas para trabalhar, tomar um Rivotril, chorar um pouco e dormir.


Só.

6 comentários:

  1. Anônimo12:23

    Vamos lá... Namorei com uma cidadã que teve um filho com 12 anos de idade (hoje ela tem 24 e o moleque 12). O que eu li aqui, ouvi várias vezes dela... E vou escrever aqui o que eu diz à ela... Chegou o momento em que você tem que deixar de ser a "irmã mais velha" e ser a "mãe chata mesmo". Ninguém nunca disse que criar uma criança é fácil (e eu sei que vc sabe disso). Tens de ter paciência para lidar com essa situação. Não desaprendeu a ser mãe, só que você passou para "o estágio seguinte do jogo" e ainda não se deu conta disso. Teu filho começa a delimitar a personalidade, e tem que lembrar que antes dele ser seu filho, é um Ser Humano, com todas as variáveis (boas e ruins. Deixa teu e-mail lá no O Arroto pra eu te mandar a chave lá da Confraria. Bjos e paciência!

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  2. Anônimo11:49

    Concordo com os comentários do Daniel.
    Vc não desaprendeu coisa nenhuma.
    Essa tal de pré-adolecencia cada vez mais precoce nos enlouquece.
    Não se aflija! Aos poucos as coisas vão entrando no eixo.
    Vc é uma super mãe! Nunca duvide disso.

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  3. Anônimo18:00

    Não sou mãe, mas já fui. Não me lembro de quando, onde, como, não tenho uma lembrança sequer, mas tenho certeza que fui. E ser mãe é um experiência que marca mesmo quando você não se lembra mais dela.

    Não vivo estes conflitos mas já os vivi. Como filho(recentemente), como professor (recente
    e eternamente), como pai (antigamente e brevemente) e eles são inevitáveis e imprescindíveis.

    A vida é um ato de educação constante, de auto-educação e de educação do próximo. Toda
    troca de experiência entre dois espíritos é um ato de educação. Podemos evidentemente ensinar
    coisas certas e ensinar coisa erradas. Mas é impossível se abster.

    Se vivemos e respiramos educação, o melhor que temos a fazer é transformar este nosso
    hálito em uma representação da vontade do pai :
    “E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da
    vida; e o homem foi feito alma vivente” Gen 2, 7

    A maternidade é missão sublime sobre a terra, mas não nos atenhamos apenas ao perfume da
    rosa. Lembremos que elas também possuem espinhos. E nenhum dos espinhos é capaz de retirar a
    graça da rosa. Aliás, por causa dos espinhos é que as rosas tem um certo ar de mistério, uma fusão
    de dor e beleza que nos fascina, tornando-se um símbolo de status mas também de conquista.

    E a mãe é a primeira, última e quase sempre a maior educadora que temos em nossas vidas.
    “Mães judiciosas sempre têm consciência de que são o primeiro livro lido e o último posto
    de lado, na biblioteca dos filhos” C. Lenox Remond

    E por que os conflitos ? Para que aprendamos com nosso próprios erros. Não queremos que
    os nossos filhos cometam os mesmos erros que nós e por isso lhes guiamos em estradas que não
    percorremos.
    Ao percorrer novas estradas eles vem coisas diferentes, que junto à sua individualidade irá
    criar novas visões de vida, como novos erros de interpretação.
    E nestes novos erros aprendemos.
    Com isso torna-se muito mais fácil se avô e avó. Já somos
    mais experiente e não somos tão cobrados.
    Os conflitos geram crescimento, e a única preocupação deve ser a de direcionar este
    crescimento para algo bom.
    A arte, a ciência se desdobram em milhares de caminhos que só aos poucos percorremos.
    Alguns por nossos próprios passos; outros pelos passos daqueles que nos acompanham.

    Mas é inevitável ver que embora sejamos eternos mãe e pai, este conceito tem que se
    modificar ao longo do tempo. E devemos nos divertir com isso.
    Como já diria uma antiga crônica:
    Aos 04 anos: Minha mamãe pode fazer qualquer coisa!
    Aos 08 anos: Minha mãe sabe muitas coisas!
    Aos 12 anos: Minha mãe não sabe tudo...
    Aos 14 anos: Claro que mamãe não sabe isso
    Aos 16 anos: Mamãe? Ela está completamente por fora
    Aos 18 anos: A velha? Ela é muito antiquada!
    Aos 25 anos: Bom, talvez ela saiba um pouco sobre isso...
    Aos 35 anos: Antes de decidir, vamos ver o que mamãe acha
    Aos 45 anos: O que mamãe teria a dizer sobre isso?
    Aos 65 anos: Como eu queria poder perguntar a mamãe!

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  4. Anônimo23:15

    guerreira.

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  5. Adorei seu blog, cheguei aqui com a dica da Sam do Desabafo de Mãe. Identifiquei-me com seu texto porque também tenho um pequeno de 8 anos nessa fase "chatinha" e um pouco contraditória (ora criança que quer um dengo, ora metido a grande).
    Passarei sempre por aqui.
    Beijos e força, rs...

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  6. Ontem eu citei este post seu no blog do Desabafo de Mãe.
    http://blogdodesabafodemae.blogspot.com/2007/11/difcil-tarefa-de-guardar-os-brinquedos.html
    Como disse a Evellyn, eu tb tenho um "tween" em casa e me identifico com muitas coisas que comentou aqui sobre seu filho.
    Abraços e força na nossa luta diária de formar bons homens
    Sam

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