Casaizinhos

Eu tenho muita preguiça de casaizinhos. Aqueles tipinhos tradicionais que casam na igreja no final das contas. E depois ele fica barrigudo e careca e assiste ao futebol no domingo tomando uma cerveja e arrotando enquanto ela fica gorda e adora fofocar no salão com suas outras amigas gordas, todas casadas e vizinhas de porta.

Pois é... É destes que eu tenho muita preguiça. É típico demais.

Eles vão ao shopping na sábado à noite porque ela é menina de família e o pai mandou chegar em casa às onze. Eles se sentam na praça de alimentação. Ele pede um chope e ela, lógico, um suco de laranja com adoçante. Ele diz você não precisa emagrecer e está linda assim e ela enrubesce e responde que só quer perder um pouco de barriga e ele insiste que ela é linda assim deste jeitinho mesmo. E depois eles pedem uma tábua com direito a tudo. E ela a-do-ra uma picanha bem gordurosa e ele sabe muito bem disso. Ele pergunta como vai o colégio e ela disse que não agüenta mais a professora de geografia que deu pra pegar no seu pé. E ele fala do seu trabalho no escritório e sobre a meta de vendas que estão quase atingindo e ela pergunta o que é mesmo que vocês vendem e ele faz uma carinha de dó porque sabe que ela não vai entender, aperta sua singela mãozinha e responde vendemos softwares de implantação de visions e nêutrons para fábricas de magnetos remotos, linda. E eles comem bem devagar porque a barriguinha dela é tão pequenita, que fofa. E ele é tão experiente e a trata tão bem... Parece que estou nas nuvens... Falam dos nomes que preferem para meninos e meninas, falam das amigas dela, dos amigos dele, combinam de assistir aquele novo filme na semana que vem e dizem muitos eu te amo, um atrás do outro. E quando se levantam pra ir embora e vão tão abraçados, tão grudados que parecem um só. E se sentem assim. Uma só alma, um só coração.

Argh!

Só espero que sejam felizes, de fato.