O nosso digníssimo presidente Lula-lá lutou toda a vida pelos pobres e oprimidos. Ainda me lembro como se fosse hoje do dia em que minha melhor amiga oficial, Juliana, me entregou um papel e disse “leia”. Estávamos discutindo alguma coisa em que eu defendia Afifi e ela defendia Lula. Ela, aliás, era grande entusiasta petista e eu era extremamente contra. Sinceramente não me lembro muito bem do teor do texto, até porque eu tinhas uns dez anos de idade. Mas lembro que falava alguma coisa sobre um presidente quase analfabeto que fez grande diferença pelo seu país. E a história, claro, tinha todo um jogo melodramático de palavras e dizia da força do amor e da motivação em ajudar seu povo e que diplomas não seriam garantia de boa liderança. Confesso que o texto tocou meu coração, mas como bela sádica que sou desde sempre, sorri e disse que parecia mais roteiro de novela. Ficamos uma semana sem conversar. Mas é claro que o amor, como todos sabem, é muito maior que divergências políticas. Lula e Lulinha, como prova irrefutável disso, provavelmente continuam almoçando juntos aos domingos numa de suas bela fazendas.
Anos se passaram e hoje Juliana continua sendo minha melhor amiga oficial e Lula virou presidente verde amarelo da nação. Foi votado e devido aos votos foi elevado à função de Presidente da República. Mais do que justo. Fico imaginando se Lula foi daqueles meninos do sertão que se deitavam na cama ao enoitecer, revoltados com as diferenças sociais que observou ao ver mulheres negras com meninos no colo e mulheres brancas com saltos de dez centímetros e trabalhadores da cana com facão na mão e executivos de terno e gravata, e juravam pela sua fada madrinha que um dia seriam presidente do país e faria um Brasil igual para todos. Ou se ele é realmente um cara de boa índole que foi enganado por toda uma nação e que defende, ainda, os políticos pobres e oprimidos porque acredita na bondade humana.
- Comprem seus bilhetes. Vamos superfaturar. A briga vai começar. – dizia o jornaleiro.
É.
Sinto muito, amiga Juliana. O nosso presidente querido não quer que falem Hot Dog, Mac Donald´s, voleyball, light, diet e qualquer outra palavra maligna estrangeira no seu país. Estabelece que não podemos dizer algumas palavras preconceituosas enquanto negro é negro mesmo e puta é puta mesmo, leva um chute nas nádegas do petróleo, para de beber, faz regime radical, diz que a imprensa invade sua privacidade e briga com “as elite”, e diz que não sabia de nada. Que não saiba das ambulâncias, das contas, das ilhas, das festas, dos dinheiros, das putas, das prefeituras, dos correios e de todas as outras podridões do governo.
Por isso tudo, respondo agora, mesmo que tardiamente, a invocada cartinha que Juliana me entregou há 16 anos atrás. Outra cartinha:
“... tenho muita esperança. Espero, com o coração aflito, que o representante do nosso povo seja um cara honesto. Que seja realmente alvo de injustiças e que seja, realmente, tão ignorante em relação às roubalheiras que acontecem sob seu nariz. Porque é a única explicação que vejo para ele ainda usar a frase ‘eu não sabia’ por aí. É claro que isso não resolve os problemas do país. Mas pelo menos assim o nosso povo monolingue não terá de reaprender outra palavra maligna estrangeira: impeachment.”
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