sábado, julho 24, 2010

cheia de vazio por dentro

Sabe quando o estômago da gente fica assim... estufado... garrido... eriçado... Como um pavão ganancioso cheio de petulância e pavor? E quando o pescoço dói de tanto olhar pra baixo querendo ver acima? E quando o esôfago reclama e quer por pra fora qualquer coisa que nem mesmo existe de dentro pra sair? Isso tudo é um tanto de vazio dentro. Vazio faz doer as costas, faz prender a respiração, faz a vista falhar, a unha quebrar, o cabelo cair... Vazio é como um gás isolado. Nobre, arrebitado como crista de galo macho. É de não perder o apreço para qualquer cantinho. Gosta de ocupar espaço. E cresce, se aglutina, vira uma coisa grande, mole, dengosa, pesada. Vazio é um tanto pesado.

Eu me sinto com vazio saindo pela culatra... Chama o ladrão! É vazio dentro do ouvido, no buraquinho preto do olho, passando pelo umbigo, debaixo das unhas, nas dobras dos dedos dos pés, no franzir dos olhos de testa apertada de quando não se consegue ver o que era pra enxergar. Meus vazios não são buracos. São sacolas, são balões como os de pensamento, são pacotes cheios... Cheios de nada. Tudo vazio, oco, vácuo, cavo, desocupadamente... Vago. Vazio Vago.

Se vazio vaza eu não tenho certeza. Mas parece que se solta em partículas e sai. Depois volta. E vai. E volta. Vazio faz movimentos como que peristálticos. É um palhaço gordo de circo fechado pulando da linha da corda bamba e caindo no enorme colchão cheio de ar sem nada.

Vazio não é coisa que se passa, que se pega. É coisa que se desenvolve, que se amplia dentro. Ou fora. Mas não é contagioso, não é vírus ou bactéria que prolifera. É auto-imune. Mas pode pesar nos outros também. Ou faltar nos outros. Ficar vazio em alguém e encher outro de vagarosidade. É isso que o vazio faz.

Planejo começar a furar as bolotas flutuantes, uma a uma. Ou abrir algumas portas. Ou gaiolas para os que forem gaiolas. E concatenar com cada vazio, seu devido lugar. Espaço este que não dentro de mim. Coisa de fora. Se precisar vou arrombar, arrotar, flatular cada canto de vazio em forma de meleca ou cera de ouvido ou o que for de coisa nojenta de dentro de mim... Vai sair. Ah, vai... Vai sair. Todo vazio oco que aqui insiste em perdurar vai-se embora. Será esmigalhado, estourado, arrancado... É sem pudor que digo que já me chega de dor nas costas de ombros pesados como se menina carregando mochila pesada de escola. É sem pudor ou face rubro que me basto de vazios, estes que me enchem por dentro, o tempo todo.

Vaza. Seca. Torneia. Abocanha. Arrebenta. Rasga. Vazio oco vago que nem me interessa.

Vou me encher é de outras coisas. É de amores, de flores, de perfumes, de cheiros, de girassóis, o que me vier à cabeça sem ordem ou grau de importância. Espaço vai cabe e aos montes. Encher a cabeça e o corpo com qualquer coisa que valha, que me apeteça, que me regojiza! Um cadin de paz vai bem também. Aos poucos e sem desespero me desfaço de bolhas de ascos de vazio vago cavo oco. E vou-me leve, me enredando por lugares que não conheço, por empreites que não me dei ao luxo, por selvas, por matas e águas. Tudo com cor, afinal, é mais bonito.

Talvez não tenha dito... Mas o vazio... O vazio é cinza, do tipo que não se enxerga...

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