quarta-feira, outubro 21, 2009

Sobre a Terapia - as terapias da vida (e de hoje)...

Desde o dia em que me vi meio sem rumo (a princípio), sem emprego (a princípio) e sem nenhum tipo de definição para responder o “e agora?”, não escrevo. Desde estes tempos (juro que parece que já se passaram semanas) eu penso muito e não coloco nada pra fora. Não vomito, não falo, não externalizo.

Fato é: Sexta-feira passada (acho que dia 16...), por volta das 18 horas, minha vida ficou de pernas para o ar. Não, não foi ruim. Foi é assustador. Foi estranho. Foi rápido. Foi tchau. Foi “vai”. Neste dia, enquanto tudo era a princípio, eu fiquei desorientada. E só fazia chorar e sentir saudades de uma rotina que eu não gostava, de um bater cartão que me irritava, de uma ditadura que me causava asco. Mas era uma realidade de começo e meio que durou mais de três anos até o fim. E o fim foi como uma lasca, um machucado da época em que mertiolate doía. Foi fim. E fim é uma coisa difícil. Sempre é. Mesmo o fim de uma guerra. É sempre fim. Hora de olhar para o meio, lembrar do início, se ver naquele embolado de coisas e se perguntar “e agora?” sem saber a resposta. Foi uma sexta-feira de dor, alegria, alívio, desespero, felicidade... E tantos sentimentos quantos couberem. Não sabendo o que fazer, tomei um porre.

Sábado-feira, voltei à loja que tinha ido na sexta pós-traumatismo. Consegui escolher uma sandália bonita, minha cara não era mais de chorar, era de choro. Cara de quem chorou uma semana. E eu me sentia mais ou menos assim. Como se estocasse, por três anos, lágrimas pra chorar em 24 horas. Chorei com amigos, com desconhecidos, sozinha. Mas sábado meu coração estava sem choro. Estava voltando ao normal. Só que um outro normal. Um normal que não era um dia após o outro. Era “fora do tempo”. Aí fui tomar uma cerveja sem pressa, olhei lojas, economizei dinheiro e pensei no “e agora?”. Pensei em milhões de coisas. Pensei que deveria mandar um e-mail me despedindo, que dia faria isso, quando voltaria pra me despedir... Mas pensei também, se voltaria pra me despedir. Enfim, já tinha conversado com a maioria das pessoas com as quais gostaria de manter contato, já tinha comunicado outras de cunho pessoal... O que haveria de fazer? “Ah, tem um pedaço meu lá”. OK. Que pedaço, me perguntava. Amigos? Amigos não ficariam por lá. O que estava lá? O que tinha deixado? Um chinelo e um porta lápis? Ou meu cacto Jonhy?

Sábado passou, chegou o domingo, dia de feira. Olhei bolsas, sapatos, brincos. Comprei quase nada. Comi milho verde. Liguei para meu filho. Era início de outra coisa: horário de verão! Dia bonito. Machuquei meu joelho. Bebi água. Não acendi mais nenhum cigarro e comecei a bolar meu plano de treino para o circuito de corrida que vou participar.

E passou o domingo. E chegou a segunda.

A segunda, como todo início, seria reveladora. Foi. Foi o dia internacional do MEU mau humor. Foi o dia que não me encaixava em nada. Nada na TV, nada de dormir, nada de trabalho, nada de nada. Foi um dia muito chato. Peço desculpas a quem teve que conviver comigo neste começo de semana.

Terça. Mãe. Sentia falta disso de levar filho no médico, comunicar o pai, comer japa com meu filho, dormir abraçada com ele. E família. Cuidar da minha avó sem a pressa de bater o cartão. Arrumar o armário só pra organizar a mente. Trocar a lâmpada queimada. Treinar no sol escaldante que esta terça me deu de presente. E, enfim, dormir.

Hoje, quarta-feira. Dia de muita coisa. Dia de pensar na minha reunião de produção de ontem. Dia de tomar um banho diferente. Dia de correr na chuva que lava a alma. Dia da teoria “já fud#u!”. Dia de entrar no shopping pingando goteira e não dar bola pra nada. Dia de bater papo com o segurança do shopping sobre a chuva que só caiu mesmo pra me lavar. Dia de andar de mãos dadas com meu namorado. Dia de mudar as estratégias do treino. Dia de comprar tênis e ficar de havaianas. Dia de fome e sanduíche grego. Dia de filho. Dia de cheiro. De arrumar cabelo no salão e me sentir linda, mesmo que só pra voltar pra casa.

E hoje, se terça, quarta ou domingo, não importa, foi dia de terapias. Foi dia de conversas. Foi dia de outro tipo de saudade. Foi dia de “vai lá e toma um banho com um esfoliante tal”. Foi dia de olhar pro céu e perguntar “cadê você? Abra os olhos pra te achar!”. Foi dia de passar argila medicinal na família. Essa argila que insisto em chamar de “geléia”. Foi dia de deitar minha avó de costas e emplastá-la de gosma verde e ouvir que teve “a parte do geladinho bom e a parte do quentinho bom”. Foi de ouvir do meu amado filho: “sei lá se foi bom, eu dormi o tempo todo” e retrucar “então, meu pequeno, foi excelente!”.

Hoje, seja que dia for, foi dia de recomeço. Foi dia de plantar outros frutos, de contar outra história. Foi dia de Carolina. Porque se a vida começa mesmo aos quarenta... Eu to bem demais da conta. Nem trinta eu tenho!

Então, a pessoa de vinte e nove aqui, vai cuidar-se agora. Todos de geléia refrescante e seu efeito poderoso, agora é a minha vez.

Inté mais ver, porque agora vou me besuntar de plasta verde musgo porque hoje é meu dia de começar a viver. De novo.

2 comentários:

  1. eita... adorei o texto!
    tive dificuldades nas duas vezes que larguei emprego. Hoje não me imagino e nem posso ficar desempregado, mas mudanças sempre soam de forma agradável em meus ouvidos...
    Como todo bom brasileiro, espero pro ano que vem!
    Poste mais, que passarei sempre pra ler!
    beijos!!

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  2. Oii,
    fiquei curiosa com o texto, depois me identifiquei um pouco... depois deu at´e um alívio...quem sabe uma hora chega a minha vez de recomeçar, tbm não quero mais bater cartão...pelo menos não mais no sentido iliteral da palavra...posso até bater cartão físico, de ter hora p chegar e sair, mas bem que podia bem no meio disso tudo fazer uma coisa que se goste né?
    Boa sorte!

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