quinta-feira, outubro 15, 2009

Que dia vou poder voltar a correr, querido fisioterapeuta?

A Fisioterapia é muito engraçada, além de terápica...

 

A gente vê aquele tanto de gente dizendo "ui, isso dói, doutor" e outro dizendo "fisioterapeuta não é doutor" e um "ai, ai, ai..." na maca ao lado. E vê, também, um tanto de estagiário espalhado que nem barata tonta, todos de branquinho e rabo de cavalo...

 

Na minha fisioterapia tem a Dona Ignês. Doninha mesmo. Ela vai sempre maquiada, com colar de pérolas, cabelo bem arrumado e, quando perguntam onde dói ela é enfática: "mais fácil eu te dizer onde não dói, minha filha...". Dona Ignês sempre chega em cima da hora. Sempre com aquela carinha boa e sempre me pergunta como vai a minha avó. É porque me orgulho toda quando conto que a Veia já teve não-sei-quantos derrames, AVC's, isquemias (ou o nome que quiserem dar), enfartos do miocárdio, veias entupidas, erro médico, já foi desenganada de mandarem chamar a família toda que está espalhada no mundo porque ela não resistiria, de dizerem que nunca mais falaria, nunca mais andaria e eticéteras mil. Mas confesso que meu peito estufa quando conto que a minha boa velhinha de 92 anos está "vaso ruim que não quebra"! O dia que está bem, ela levanta, toma banho sozinha, pede acetona pra limpar as unhas, sai andando e vai cuidar do jardim. E conto isso pra Dona Ignês sempre. Dona Ignês tem 74 anos e sofreu um AVC, "fiquei internada três dias no CTI, menina, uma semana no quarto e um mês de repouso em casa. Aí começou a doer tudo mesmo, sabe? Todas as juntas!". Ela é enfática mesmo. Mas eu adoro quando ela chega, recostada nos braços da filha, cumprimenta todo mundo e me dá um abraço. Digo a ela que tem que parar com essa frescura e colocar o corpo pra funcionar pra visitar a minha avó e conhecer o tal jardim.

 

Tem também o moço, que não sei o nome, um moço conversado que só vendo. Ele mesmo arruma seus aparelhos, diz que tem que ser mais forte, que tem que ter mais peso... Não sei. Mas acho que ele deve ser fisioterapeuta também. Ele fala o tempo todo. É interessante ficar perto dele. Melhor ouvir a voz dele do que a hora do Brasil, que insistem em deixar rolando quando chego, às 19 horas!

 

Tem um senhor mais velho. Dele, nada sei. Só o vejo chegando ou saindo. Não sei o que ele faz. Não sei do que se trata. Nem nunca escutei a voz dele! Mas tá lá sempre.

 

Engraçado isso. Um lugar em comum, para pessoas que buscam algum alívio. Umas a gente vê, presta atenção, conversa... Outras a gente guarda na lembrança. Outras só passam.

 

Tem também uma moça que reclama muito. Ela diz que a cadeira do trabalho dela estragou ela toda. Mas fala isso com uma boca cheia! Fala isso sempre. Todos os exercícios que ela faz são horríveis! Tudo é terrível com ela. E a bendita cadeira que ela senta, Dio Santo!, é a pior cadeira do mundo! Ela tem princípio de tudo: osteoporose, corticóide, celulose, etc. Dos pés à cabeça. E o tal do choquinho? Afe! É de matar!

 

Tem também uma menina lá. Uma ex-atleta, falante até, que reclama da cabeça, do joelho... Ela conversa com todo mundo, solicita tudo, pergunta por que isso, por que aquilo, fala do andar de cima, fala da outra sala que toca músicas de verdade, fala que não quer fazer nada, leva filho, conta histórias, pede pra fazer exercícios com pesos coloridos, fala de física quântica e psicanálise e sempre, sempre, esconde a ficha da fisioterapeuta, que nem nunca percebe... Rs... Esta, sim, sou eu.

 

Eu me divirto!

 

Pensando sem cautela e só com a razão: eu pago um plano de saúde caro. Eu preciso fazer a fisioterapia. Fui avaliada por um fisioterapeuta. Chego lá e vejo todos os fisioterapeutas no computador e os estagiários atendendo trocentos pacientes. Vou fazer o quê? Lógico que vou chamar o fisioterapeuta o tempo todo! Vou falar que isso pode interferir naquilo, vou perguntar sobre a birimboca da parafuseta! Mas vou dar trabalho. Concorda? Ou Sem-corda?

 

E já avisei para a minha querida estagiária-fisioterapêutica-que-tem-que-pular-corda-todos-os-dias-pra-ganhar-pirulito, a Nayara: Se um dia eu chegar e ver fisioterapeuta coçando o PAPO no Orkut... Ah, menina! Eu me jogo no chão e caio toda estatelada e torta. Aí sim!

 

Vão ter que me engolir! Ou me desentortar, néam? Porque eu sou assim, meio tupetuda, mas tenho lá minhas coisas tortas. Pelo menos, quem sabe, me colocam no tal do "quentinho" por meia hora e desligam aquele apito tenebroso e me deixam até tirar um cochilo?

 

Fisioterapeuta especializado em computador não dá! Não é? Aposto que a Dona Ignês concordaria comigo!

 

Carol Bahasi

15 de outubro de 2009.

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