quinta-feira, agosto 13, 2009

Limpeza

 Comecei olhando. Estava boba. Como tinha chegado tudo àquele ponto?

 

Tinha brinquedo no chão, livros na cama, caneta no chão, meia, calcinha, chinelo, papel higiênico, tudo na casa do cachorro. Tinha copo, pedaço de pacote de biscoito, gominha de cabelo, arte de pintura, auto-retrato, figuras e adesivos nas paredes, roupa jogada, almofada enfiada dentro do armário, escova de cabelo, brinco na prateleira dos livros e livros na prateleira dos DVD´s. Tinha o mouse desconectado, uma luva que ninguém-sabe-ninguém-viu...

 

Olhei e fiquei olhando por mais de meia hora. Não sabia por onde começar. Me lembrei da teoria do meu amigo Bruno Lins, da pilha de vasilhas na cozinha a serem lavadas. No meu caso, era o quarto.

 

- Filho, vamos dar uma gera aqui?

- Vamos! Tá muito bagunçado!

 

Tira, põe, pega mais sacola de lixo. "De onde vem esta caixa?". Isso aqui, pra quê serve? Joga na pilha de "não sabemos" e continua. Vassoura, pano. Separa livro, boletim escolar, coisa de cachorro, coisa de Alice, coisa de foto, coisa de álbum. "Olha só o que eu achei!". Vai ser útil? Não. Só bom de lembrar. Então, oh: pilha de lixo! Vassoura de novo. Para de latir, cachorro chato! A sua casa agora é aqui, viu? "Preocupa não, flho, ele vai se acostumar".

 

Limpa, arruma, completa, junta, acumula, separa, distribui. Isso volta pra cozinha, isso para o outro quarto, isso pra sala, isso eu nem sei o que é! Arruma, arruma, arruma. "Tem certeza que vai guardar isso?". Vai ser bom porque... OK. Guarda naquela caixa que ninguém sabe de onde e pra onde. Depois a gente pensa onde coloca-la.

 

Varre.

Suja.

Sai, cachorro.

Pega ali, oh, vai cair.

Varre de novo.

A caixa.

 

Será a caixa de pandora?

 

Não, mãe, é uma caixa que veio em algum presente que ganhei de alguém em algum ano aí... OK. Dá pra sua avó que ela vai gostar. Adora caixas! É mesmo... rs...

 

Agora troca a roupa de cama, abre a janela e passa o pano. Mão suja. Mente limpa. Clareando. Desmistificando. Arrumando.

 

Só falta este sapato aqui. Esse vai ser o meu espaço para livros que estou lendo e este para os seus. Só os que estamos lendo. Guardou?

 

Ótimo.

 

Computador, laptop, telefone, TV, som, espaço. Espaço.

 

Espaço pra dançar e rodopiar. Fizemos isso. Sem calcular.

 

O cachorro ainda pega um chinelo e corre para seu antigo apê. Mas não preocupa, mãe. Ele vai se acostumar.

 

Terminei olhando. Estava boba. Como conseguimos fazer aquilo tudo tão rápido?

 

Fácil, não? Só começar? Ah, tá. Começar é que é difícil. É a pior parte. Mas se não acontecer...

 

Aí deu pra escolher a roupa para trabalhar no dia seguinte. Deu pra usar o computador e fazer contatos.

 

Deu pra fazer um bilhão de coisas. Deste bilhão, só uma ou outra seriam possíveis antes, na bagunça que estava minha cabeça, meu coração. Dava eco, não escutava direito. Agora com espaço para pensamento desembolar os fios, desfazer os nós confusos e alinhar-se numa linha reta sem entortar o corpo dolorido, começava a pensar direito. Pensar calmo. Pensar decidido, pensar sem parar, PENSAR.

 

Foi uma limpeza da minha redondeza. Foi colocar em ordem todo o meu processo, interno, externo. Foi saber onde estou. Aqui. No meu quarto. Arrumado como eu quero. Limpo e claro como eu quero. Com o meu espaço. Com as minhas idéias.

 

Aí, realmente, coisas acontecem. Não necessariamente alguém me ligou e me respondeu todas as minhas perguntas sem resposta ou uma editora me contatou para publicar minhas histórias. Nada disso. Aliás, muito melhor que isso! Era EU NO MEU LUGAR.

 

Bom. Assim é bom. Agora posso escolher se vou pra lá ou pra cá. Se pulo ou se dou a volta.

 

Para uns foi só uma limpeza no meu quarto. Pra mim, foi tomar as rédeas da minha vida louca novamente.

 

E vamo que vamo que to com fome de chegar!

 

U-huuuuuuuuuuuu!

Um comentário:

  1. Sempre admirei seus textos, mas nesse vc se superou !
    F.A.B.U.L.O.S.O

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