terça-feira, junho 02, 2009

Ela que é toda ão e também é toda inha

Ela é muito ão. Vozerão. Cabelão. Ela é de olhar expressivo. A pessoa mais preocupada com sobrancelhas e fotos com sobrancelhas. Ela é cheia de panos. É preocupada com a goteira do banheiro que não para de gotar. Com a água do mundo que não se para de acabar. Com e ária da sua música inédita que está sempre a se aperfeiçoar e aperfeiçoar e a aperfeiçoar, ai, Deus, que coisa sem fim! E tudo pra ela é sem fim. Sem fim, sem começo, tudo acontecendo no mesmo tempo, mas não no mesmo lugar. Ela é toda ão sem se esforçar. E muda tudo todos os dias. É um tecido na janela, o interfone tocando antes de achar a cravelha de adentrar a porta. É outro projeto, mais dois violões, uma flor vermelha da qual já se enjoou, um sem terminação danado cutucando seu Monstro que arrasta correntes.

Ela é muito ão quando conta uma história... E uma história de uma angústia Diva, divina, que lhe persegue. E ela foi na casa do Mestre e falou com ele que aquilo cutucava seu coração, voltou e fez uma meditação e logo após levantar-se do chão pegou cuidadosamente a chave da gavetinha do subconsciente e lá guardou o que tanto lhe causava aflição. E depois deste recitar de delongas ela soltou uma majestosa gargalhada de ãos, da época em que fora bruxa em uma das suas vidas passadas. Explicou, então, deu uma “pequena piradinha”. Ainda mais depois que, chata como é com alimentação, recebeu uma pizza fria que encomendou logo quando começou a computar toda aquela classe de fatos. E atos. E é lógico que do começo até o estrondo de mandraqueira “se alguém me ouvisse eu não gritava” a pizza já havia de estar gelada. Tão ão que é.

Também é toda inha. Todazinha. Toda dengo, toda Riquesa, toda Flor, toda Vida e toda leve. Toda bonita, toda casa aberta, toda vem morar aqui, toda Sil. Tem lá seu Lorde Bento, seu cantinho colorido, seu jeito meigo de dizer oi. Toda inha de compor musiquetas com seus sobrinhos-afilhados, de arrumar o sofá pra toda gente sentar. Toda inha de ser igual a toda essa gente que aparece para ser sua companhia eterna nessa vida. Toda pequena na sua grandeza. Ela é inha porque é bonita de coração cor de rosa pulsando melodia de cheiro bom de colo que a gente pede quando se desconforta e corre prum lugar seguro pra deitar e chorar todas as lágrimas sob seu olhar tenro. O mesmo expressivo que também chora no seu desencanto e expectativa de que tudo sempre melhora mesmo sem que se saiba quando. Porque sempre haverão janelas abertas e toalhas coloridas ventando. Sempre pode-se redescobrir, reabrir, entregar-se desnudamente ao que não se sabe como, mas que sempre, sempre melhora.

Ela que é toda ão e também é toda inha. Ela que sabe onde fica a gavetinha mais misteriosa da mente humana, que te diz “amiga, quando estiver pronta...”. Ela que precisa urgentemente falar com você sobre uma idéia louca que deu na telha dos cabelos dela, ela que espera com a sabedoria que só uma pessoa toda ão e ao mesmo tempo toda inha sabe esperar.

Cabe sim! Cabe sim isso tudo numa só. É uma Silvia Gommes, uma Izadora, um grito de guerra, uma Riqueza... Tudo junto ali explodindo como a vi pela primeira vez. Como se vê pela primeira vez uma pessoa toda ão e uma pessoa toda inha numa só pessoa de Alegria. Sentada no chão, com um sorriso complacente, cabelos ora soltos, ora bagunçados, ora presos num coque meio sem jeito, ditando palavras em voz. Cantando e cantarolando. Aí... Aí eu me apaixonei!

É essa aí, oh! Destrambelhada, gentil, real quase inacreditável. Porque quem é toda ão e toda inha é fruto de coisa boa, é vitória de quem se aprochega, é honra de quem a escuta, é moça de coração valente que tem esperança estampada no peito.

É ela que é toda ão e também é toda inha.

É toda Ela.

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