quinta-feira, maio 01, 2008

Medo

Medo. Medo, alarme, aversão, covardia...

A verdade é que a palavra MEDO deriva de uma palavra grega que significa "temor".

É a insegurança tremenda que sinto em querer mais e achar que posso poder mais. É aterrorizante, é estático, é paralisante, é veneno. Um sentimento de inquietação, de apreensão, de incerteza, de receio de um perigo real ou imaginário.

Essa fobia maluca muitas vezes me estanca no meu próprio estatus quo da ignorância. E cresce diante de mim como uma bexiga de gás hélio. Sim, como uma bexiga. Porque o medo, o meu medo e até acho que todos os medos tem haver com “deixar algo”, “fazer diferente” e, como não poderia deixar de ser, tem haver com “sair da posição fetal”, do colo macio da mãe, das festinhas com bexiga de gás hélio.

Medo é uma coisa, assim, repugnante! Indesejável. Detestável. Deplorável. Uma coisa assim de mãe apontando o dedo na sua cara e dizendo “Não tenha medo!” e o pai “Estou orgulhoso de você, filho, como foi corajoso.”.

E o medo cresce mais do que a gente, apesar de ser medo da gente, porque ele é feio e grosseiro. E feio e grosseiro também é quem o tem (confessa ter).

Mediocridade. Tudo haver com o medo. Medíocre. No meio. Parada. Um pau, uma pedra. A distância entre dois pontos. A riqueza de um lado e a pobreza do outro. O conhecimento de um e a ignorância do outro. As chances de um e as invejas do outro.

Aí estou. Medíocre. Piso no chão e encosto as mãos nas nuvens. Vejo acima e abaixo. Aqui é muito mais confortável. Pra cima, tenho medo dos lobos, das mulheres que correm com os lobos, das meninas más que não vão para o céu, mas que dormem bem à noite, da luta (ai), da guerra, das disputas, das pessoas más, do mercado de trabalho com trabalho e sem emprego. Pra baixo, por ora, nem quero saber. Que me permaneça aqui, no meio, sem esforço mesmo. Amanhã penso nisso.

Posso usar de todos os moralismos e ideologias para justificar meu medo. Posso usar meu pai, minha mãe, minha avó, minha cachorra, meu professor de ciências da quarta-série, meu intelecto evoluído sem muita necessidade de intervenção (sic)... Minha dor de cabeça, minha faculdade, meu par de tênis rasgado, minha pós-graduação, meus sonhos, minha imaginação fértil, minha vizinha, o sistema, o governo, a juventude, a rainha Elizabeth. Dentro da estrutura-primitiva-da-representação-social-do-medo, posso falar qualquer coisa. Posso evocar qualquer santo que me deixe, ainda, bem onde estou. Sentada, parada, em frente a uma tela de 15 polegadas de um computador, de costas pro meu chefe, trabalhando com firmeza em vez de outra coisa qualquer. Estou aqui. Medíocre.

Medo do desconhecido chega a ser simplório perto do tamanho do meu medo. Pra falar a verdade, do tamanho da minha maldita COVARDIA.

Que fosse culpa dos meus pais Woodstock que proferiram palavras belas à ditadura e ergueram um-meu chão seguro onde “tudo pode, mas melhor não mexer”. Que fosse culpa do governo que não me dá oportunidade (apesar de não precisar de casa, comida e estudo – do governo). Que fosse a culpa do meu avô que sempre preferiu a minha irmã mais nova, ou do império romano que a petulante professora de história usou para me reprovar. Que fosse a culpa de outro. Não minha.

Porque é minha. A culpa é minha em acreditar que o MEDO é ruim e deve ser secreto.
A culpa é minha porque me deixei levar pela idéia de que o medo não é legal.
A culpa é minha porque enquanto muitos me diziam “Que bom! Você superou o seu medo!” eu só entendia “Medo é abominável. Não tenha MEDO”.
A culpa é minha por me culpar ou culpar alguém.
A culpa é minha.

Esse tal de medo é mesmo “fudido”. E lindo. Duvido que Armstrong perambulasse pela Lua sem medo. Duvido que a Coca-Cola fosse a Coca-Cola se não tivesse medo da Pepsi. Duvido que o muro de Berlim tenha caído aos pés do mundo sem tijolos de medo por todos os lados.

Eureca! O medo é o irmão gêmeo da coragem!

Ninguém faz nada corajoso sem ter sentido medo antes.

Então, ora, o MEDO é extremamente importante. O meu medo, agora, tem que ser estimulante para provar a fórmula coragem versus covardia = alguma coisa.

Baltasar Gracián y Morales, escritor, filósofo e jesuíta espanhol disse, por várias vezes, a célebre: "Não há mestre que não possa ser aluno.".

Lindo! Clap, clap... (barulho de palmas).

Só que MEDO não é sinônimo de VARINHA DE CONDÃO. Não é automático. Como disse antes, a culpa é minha sim. Porque o MEDO, sozinho, não infla, não cresce, não existe. O MEDO sozinho é só uma palavrinha de quatro letras. O medo comigo, aí sim!

E a culpa continua sendo minha. Sabe por quê? Porque continuo sentada, parada, em frente a uma tela de 15 polegadas de um computador, de costas pro meu chefe, trabalhando com firmeza em vez de outra coisa qualquer.

Uma hora ou outra tenho que levantar desta cadeira. Talvez seja agora.

3 comentários:

  1. Anônimo21:57

    Ontem, na Faculdade,minha professora falava sobre a importância do medo na vida do ser humano. E de como ele pode agir, para que possamos ter atitudes pró-ativas. Lindotexto, parabéns! Não é a toa que te quero dividindo um blog comigo. Aliás,tô esperando propostas suas para podermos iniciar esse projeto. Bjus.

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  2. Flor, esse texto esta perfeito, ja o divulguei para muita gente, seu blog deve esta pipocando de visitas.
    Quero autografo !
    Love u

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  3. Anônimo22:35

    Oi gta doida, tudo bacana. Já te enviei dois e-mail's. Um da permissão do blog e outro com pequenas colocações. Fique a vontade, minha sócia. Bjus.

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