quinta-feira, julho 20, 2006

Plaquinha

“O ministério da saúde adverte: Este produto contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, e nicotina que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para consumo destas substâncias.”

Boate. Lá pelas tantas. Tantas cervejas. Tantas horas. Fila do caixa. Rachel e eu.

- Vocês já vão embora? Mas por quê? – a amiga pergunta.
- É que a gente ta meio cansada e você sabe, né, hoje ainda é quarta-feira e coisa e tal. – desculpa esfarrapada.

Fila. Nossa, mas que demora pra menina achar o cartão de crédito pra depois o caixa dizer que não aceita cartão de crédito e ela começar tudo de novo, agora em busca do talão de cheques.

- Rachel, - mamada – olha aquela plaquinha ali em cima do caixa. Ta vendo? Eu queria escrever sobre aquilo, mas eu tenho certeza que amanhã eu não vou lembrar o que estava escrito.
- Ah... – mais mamada ainda – É...

Silêncio.

Duas amigas de longa data, numa boate meio escura, meio alcoolizadas, uma falando embolado e outra com os olhos quase fechados. Vinte e tantos anos quase trinta (que exagero). Se arredondar vai pra trinta, entende? Duas mulheres adultas. Pensativas. Uma pensando que quando eram jovens eram mais aventureiras e como a vida lhe dava em anos o que lhe tirava em criatividade. E outra pensando em como estava velha e o que poderia fazer pra se sentir melhor e mais jovem de espírito. Caladas.

- Vamos ARRANCAR (boca cheia para enfatizar o vandalismo) a tal plaquinha pra você levar pra casa? – disse com fala embolada – Aí não tem jeito de você esquecer e amanhã vai poder lembrar exatamente o que estava escrito.
- Vamos. Mas como?

Ambas sabiam que, na realidade, o objetivo era o prazer em reviver situações perigosas e grandes aventuras de outrora. Mas não tocaram no assunto.

Eu (não sei como tive coragem) levantei o meu braço esquerdo, meio que sorrateiramente, e, num impulso, arranquei a plaquinha do teto. Ai. Ninguém olhou. Mas eu comecei a ter tremedeira e fiquei com medo de alguém aparecer apontando o dedo pra minha cara. Sem saber o que fazer, entreguei nas mãos de Rachel, minha comparsa, o objeto do crime. Ela, por sua vez, olhou ligeiramente para os lados e, num rápido e silencioso movimento, acoplou a plaquinha à sua barriga, por debaixo da blusa. Ufa. Todos sabem que os próximos instantes ao crime são os mais angustiantes. E só ficamos tranqüilas depois que pagamos a conta e saímos dali.

Acordei hoje e dei de cara com a plaquinha que insiste em me dizer que não adianta fazer nada. Que eu tenho mesmo 26 anos de idade e que roubar plaquinhas de boates não é nada demais. E que ninguém deve ter visto nada e que não corremos risco algum. Pronto.

É a idade... Mas o pior de tudo é acordar hoje, ler o que está escrito na plaquinha e não saber porque, afinal de contas, eu queria tanto saber o que estava escrito nela, porque eu absolutamente não me lembro sobre o que de fato queria escrever.

4 comentários:

  1. Anônimo13:39

    Já sei pq vc queria a plaquinha!!! Era pra dizer que vc "NÃO FUMA CIGARRO DE PAPEL", ou seja, aquele alerta da plaquinha não se aplica a vc... Será???? (rsss)
    Noite curta mas especial... ADOREI!!! Beijos!!!
    Rachel.

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  2. Quando eu vejo esses avisos, penso que eles dão ótimos motivos para não se aproximar do cigarro, mas poucos ou nenhum eficiente para LARGAR o cigarro efetivamente. Ou talvez eu esteja simplesmente me enganando, o que não seria surpresa nenhuma.

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  3. Anônimo00:48

    quem nunca "viajou" que atire o primeiro drink.
    bjos,

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  4. Anônimo15:06

    Sempre o problema do gravador que não estava ali, bem na hora que surge aquela idéia genial (às vezes, genial só porque estamos bêbados), e perdemos para todo o sempre a idéia genial pra escrever alguma coisa.

    E correr riscos... sempre bom.

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