Esse dia eu tava uma chata de galocha. Primeiro porque tomei três antiinflamatórios para a garganta (ao invés de um) e tomei uns goles de cerveja. Segundo porque eu tava com a música do mamute na cabeça e não parava de cantar “o mamute, pequenino queria voar... tentava e tentava e não podia voar. A pulga, sua amiga, tentou ajudar... e de cinco andares fez ele pula... O que aconteceu???? Merrrrrda.... O mamute virou meerrrrda...”. Terceiro porque meus amigos começaram a me dizer que eu tava muito doida e muito chata. Quarto porque fomos ao pagode (e eu não gosto de pagode). Quinto porque peguei uma florzinha no chão para dar pra minha amiga e ela jogou fora. E sexto porque este era o meu dia de ficar chata.
Depois que me mandaram calar a boca eu parei de conversar e fiquei igual a uma menina emburrada. E aí vem o meu sétimo motivo: Começaram a me encher o saco porque eu estava calada. Ora! Calar ou falar?
Este dia eu estava especialmente enjoada. Chata mesmo. Mas por um bom motivo. INDIGNAÇÃO SOCIAL! INDIGNAÇAO por todos os motivos do mundo. Indignação porque as crianças estavam na rua no frio enquanto eu tomava a minha cerveja. INDIGNAÇÃO porque todo mundo falava da copa e enfeitava o pagode com a copa enquanto as pessoas morrem de fome. INDIGNAÇÃO porque eu, ao invés de me levantar e começar a fazer alguma coisa, estava emburrada tomando cerveja gelada. INDIGNAÇÃO porque vários cachorrinhos foram maltratados na rua no mesmo dia em que eu enchia a cara de remédio e cerveja. UMA PUTA INDIGNAÇÃO SOCIAL!
Eu estava calada, muda, surda, intolerante, petulante, instável e chata. Muito chata e puta. E queria fazer logo alguma coisa importante para o mundo e outras menos significativas, tipo mandar o Lula à merda.
E assim estava. Resolvi jogar batatinha frita para uma cachorra que rodeava a mesa. Um pouco para matar a fome da bichinha porque ela estava amamentando e muito para fazer raiva nos amigos da mesa que diziam “Xô, vira-lata!”. E eles diziam para eu não fazer isso de jeito nenhum porque a cachorra não ia largar do nosso pé e tal. E u não respondia e só pensava que éramos todos egoístas porque a pobre cachorrinha não tinha o discernimento de que não deveria cruzar porque não teria como sustentar os filhotes. E pensava que, se eu não desse, outro alguém daria e tudo daria no mesmo. Só seria mais fácil pra nós. E que era mais fácil fechar os olhos e fingir que ela não me olhava com aquela cara de cachorro perdido e aí eu não teria pena. E não precisaria fazer nada. Eu tinha certeza.
- ...és responsável por tudo aquilo que cativas.”– ouvi.
Minha amiguíssima do coração. Se não te amasse tanto assim te daria um soco naquele momento. Fui embora pra casa, puta, revoltada e pensativa. Não despedi de ninguém.
Para a infelicidade de alguns, ainda não tenho conclusão a respeito. Ainda acho que não devo fechar os olhos para o cachorro ou qualquer outro acontecimento. Mas também me lembro com clareza que a cachorra parou de comer as batatas porque o casal da mesa ao lado lhe ofereceu picanha. E virou o rabo pra mim.
Mas uma certeza eu tenho. Depois deste dia percebi que INDIGNAÇÃO SOCIAL em mesa de boteco parece coisa do diabo querendo colocar ladainhas na minha cabeça. Porque eu sou egoísta como qualquer um para saber que mereço uma cerveja de vez em quando e que bêbada não faço nada pela humanidade. Só encho o saco dos meus amigos. Dos amigos que cativei, ora! Sou responsável por eles. De hoje em dia, portanto, decidi que só tomo cerveja por tomar cerveja. E que, se for pra fazer algum bem pelo próximo, farei sóbria. Sem tomar antiinflamatórios.
Eu voto eu voto
ResponderExcluireu voto em vc pra presidente
linda!!
Tb voto em vc pra presidente...
ResponderExcluirOw, amei este ultimo texto!!!!
Tenho qmarcar mais presença aki né??? Vou ve se dou meu jeito!!!!
te amo linda!!!
Bjos
Ana Tainá
Simplesmente adorei todos os teus comments no Lua.
ResponderExcluirAdorei a sua irreverência aqui nesse teu espaço. muito bacana mesmo. ë lógico que pode me linkar.
Beijos