segunda-feira, novembro 16, 2009

Falar é Fácil!

Difícil mesmo é abrir cada gaveta emaranhada pra buscar por um bilhete do sucesso e não fechar de novo, porque amanhã você procura de novo porque hoje é melhor nem mexer. Difícil é deixar o conforto da cama no horário bem cedo pra levantar mais cedo ainda e fazer outra coisa, que não somente o que deveria ser feito, estabelecido por você mesmo. Difícil é não ter preguiça, não ter sono, não ter angústia, não sofrer porque engordou. Difícil é dizer que não, nada haver, “o que interessa mesmo é a beleza interior” e acreditar nisso no fundo do seu coração. Difícil é não querer ser importante, famoso, reconhecido. Difícil, também, é sair da capa do anonimato quando a chamada é de responder “presente, vida, eu sou assinzinho mesmo”. Difícil é não fumar quando se fuma e quer parar e dói algum sentimento. Difícil é dizer que não dói quando dói tudo, até o dedinho do pé, quando lá dentro machuca. Difícil é viver sem reclamar. É achar que ta sempre tudo bem, que o dinheiro lhe basta, que as unhas descascadas estão OK, que o pão murcho da padaria agrada, que pessoas morrem e nascem todos os dias e nada disso incomoda. Então é difícil mesmo é ser assim, alheio ao mundo, autista por querer e, pior, tentar, todos os dias se convencer disso. Difícil é levar tombo. É quebrar a perna, a cara, o quadro de paisagem. Difícil é deixar seu rádio de subconsciente ligado á noite zumbindo no seu ouvido. Mais difícil é lutar para sua razão acreditar que eram apenas sonhos. Difícil olhar para as estrelas e não querer fazer um pedido, um gênio da lâmpada, um anjo, um milagre. Uma coisa qualquer de fora. Difícil é ser assim como é, sem estampa, com todos os fatos, atos e condições de nome defeito. Ser assim, arrogante, careta, careca, bobo, inocente, vulgar, catador de melecas do nariz, soltador de puns, medroso, melodramático, previsível e: perfeccionista, lógico. Difícil ser isso tudo de cara limpa, de peito aberto, sem esconderijos na alma, sem subterfúgios de ego. É difícil isso tudo e ser bacana, admirado, agradável aos gregos e aos troianos. Aos africanos, aos indianos, aos pobres, aos ricos, aos políticos, aos vermelhos, brancos, amarelos, pretos, pardos, poetas e franceses. Difícil é isso tudo sem machucar, sem cutucar, sem abrir fendas, feridas e conceitos. É difícil ser gente grande e ser gente pequena. Difícil se desprogramar. Difícil desorganizar, entrar em pane, sacrificar matéria prima do desmontar: o que dói. Difícil definir o que realmente dói. Difícil entrar pra dentro, sair do fora, virar casulo de borboleta e ver suas gosmas nojentas em petrificação. É difícil olhar pro seu espelho e não virar as costas. É difícil ser você, ser a gente. E ser agente da mudança que nunca teve coragem de continuar pensando quando lhe vem à mente.

Falar é fácil! Difícil é ser. Experimentar é medonho e, tendo uma caminha no confortável lá debaixo dos caracóis, mais fácil deixar pra lá. Largar mão. Desconectar.

Se falar é fácil, e muito fácil, falar para os outros é facílimo! Dizer pra si é arrebatador. Mas aí vê-se que sua bisavó tinha razão quando já dizia que depois da tempestade... Experimentar chutar a porta com o dedão do pé é prova de que, depois do curativo que se dá, o alívio é evento consequência.

Se difícil, então, é chutar a porta e rasgar o dedo do pé na metade, fácil é olhar lá dentro da ferida. E assim descobre sangue, pus, ossos, a agudez, a raiva, a porta malvada, os xingamentos, as culpas dos outros. E as suas. Passada a fase do outro, começa a fase você. E aí, não tem como fugir por muito tempo. Hora ou outra vê.

Que se fizer o caminho INVERSO - o "sucesso" que sai da sua boca ir ao coração... Ah! Lembra-te da sua bisavó!

Um comentário:

  1. Difícil é viver a vida intensamente, sem nenhum medo ou coisa parecida. Em geral, dizemos que vivemos, mas não fazemos o que dizemos viver, o que é uma pena! Coragem é para poucos, bem poucos... E a vida é para aqueles que têm peito suficiente para beber o mel e o fel que a vida nos brinda. Bjus.

    http://submundosemmim.blogspot.com

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